Poluição do ar pode afetar inteligência e causar doenças neurológicas, diz estudo
25/10/2021
O pulmão não é o único órgão afetado pela poluição do ar. A saúde do cérebro e nossas funções cognitivas também acabam prejudicadas quando respiramos gases poluentes, segundo um estudo liderado por cientistas norte-americanos e chineses.
Ao longo de quatro anos, as habilidades matemáticas e verbais de cerca de 20 mil cidadãos chineses foram monitoradas pelos pesquisadores. Eles acreditam que os resultados têm relevância global, já que mais de 80% da população urbana mundial respira níveis inseguros de ar poluído.
O estudo, que contou com pesquisadores da Universidade de Pequim (CHN) e da Universidade de Yale (EUA), foi baseado em medições de dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio e partículas menores que 10 micrômetros de diâmetro coletadas onde os participantes viviam. No entanto, não está claro o quanto cada um desses três poluentes é o culpado.
Considerada uma assassina invisível, a poluição do ar é responsável por cerca de 7 milhões de mortes por ano no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Fornecemos evidências que o efeito da poluição em testes verbais se tornou mais claro em pessoas de idade mais avançada, principalmente para homens e os menos escolarizados”, diz o estudo publicado na revista americana Proceedings, da Academia Nacional de Ciências.
Poluição e as doenças neurológicas
O estudo também mostra que a poluição aumenta os riscos de doenças degenerativas, como o Alzheimer e outras formas de demência.
“Nossa amostra nos permite examinar o impacto da poluição do ar à medida que as pessoas envelhecem. Portanto, nossos resultados ao longo da vida são bastante novos”, declarou um dos coautores do estudo, Xi Chen, da Escola de Yale de Saúde Pública, à BBC.
No experimento, os pesquisadores testaram pessoas de ambos os sexos, com mais de 10 anos, entre 2010 e 2014, com 24 questões matemáticas padronizadas e 34 questões de reconhecimento de palavras.
O impacto negativo na aprendizagem
Estudos anteriores descobriram que a poluição do ar teve um impacto negativo nas habilidades cognitivas dos estudantes.
“O que há de novo neste artigo é o foco no cenário da China e o fato de ser um estudo muito detalhado em comparação com muitos outros. Além disso, a diferenciação entre gênero e idade neste detalhe é nova”, disse Derrick Ho, da Escola Politécnica de Hong Kong, que trabalhou nos efeitos de eventos climáticos extremos na saúde.
Trabalhos ao ar livre
Acredita-se que muitos poluentes afetem diretamente a química do cérebro de várias maneiras – por exemplo, partículas em suspensão podem transportar toxinas através de pequenas passagens e entrar diretamente no cérebro. Alguns poluentes também podem ter um impacto psicológico, aumentando o risco de depressão.
Uma das razões pelas quais os pesquisadores sugerem que homens mais velhos com menos educação foram os mais afetados pela exposição à poluição do ar é porque eles costumam realizar trabalhos manuais ao ar livre.
“Nossas descobertas sobre o efeito prejudicial da poluição do ar na cognição, particularmente sobre o envelhecimento do cérebro, implicam que o efeito indireto sobre o bem-estar social pode ser muito maior do que se pensava anteriormente”, conclui o estudo.
“Para pessoas mais velhas (em nosso estudo, aquelas com idades entre 55 e 65 ou mais de 65), os efeitos podem ser muito difíceis de mitigar, dada a exposição cumulativa de longo prazo”, explica Xi.
Conclusão
O estudo sugere que, embora os resultados sejam específicos para a China, eles podem lançar luz sobre outros países em desenvolvimento com severa poluição do ar, como o Brasil.
Os autores apontam para 98% das cidades com mais de 100 mil habitantes em países de baixa e média renda que não atendem às diretrizes de qualidade do ar da OMS.